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Notícias - Junho-2008
Crise
dos alimentos abre novas oportunidades para a agroecologia Num encontro de três dias, produtores da agricultura orgânica – sem agrotóxicos – do litoral catarinense participaram de oficinas e discutiram formas de ampliar a produção e comercialização de seus produtos.
Com 40 anos e pai de sete filhos, o agricultor Antônio Gilmar Cognaco foi um dos exemplos mais citados no encontro promovido pela Rede Ecovida de Agricultores Orgânicos - Núcleo Litoral e Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), em Garopaba. O evento começou terça-feira (17/06) e se encerrou ontem. Desde os 11 anos ele trabalhou nas plantações de fumo, com uso intenso de agrotóxicos, até que há alguns anos acabou hospitalizado, com graves problemas pulmonares e coceira por todo o corpo. Dois filhos já apresentavam também sintomas de saúde abalada pelo trabalho nas colheitas da produção.
Há quatro anos, decidiu abandonar a atividade e procurou o Cepagro, buscando orientação. Já tem 80% da sua propriedade de 24 hectares, em Leoberto Leal, convertida à produção de alimentos orgânicos e gado leiteiro no sistema voisin. "Valeu a pena, a qualidade de vida da família se tornou muito melhor, temos uma comida mais saudável e estamos produzindo alimentos, não estamos produzindo drogas", afirmou Cognaco. "Aconselho a todos os agricultores que se conscientizem e passem a produzir alimentos orgânicos, é mais fácil que com agrotóxicos", garantiu.
Ele foi um dos 120 produtorers de nove municípios vizinhos a Garopaba que compareceram ao evento de agroecologia, realizado com o apoio da Fundação Gaia e do Projeto Ambiental Gaia Village, onde aconteceu o encontro, na Praia do Ouvidor (foto). Eles avaliaram a sua situação, participaram de oficinas técnicas (adubação verde, compostagem, processamento de açaítecelagem e ervas medicinais) e traçaram planos para ampliação da produção e comercialização da produção.
Janela de Oportunidade
O coordenador-geral
de Monitoramento e Avaliação do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), Márcio Fontes Hirata, disse aos produtores que a crise mundial
de alimentos abriu uma grande "janela de oportunidade" para a
agroecologia, já que a agricultura tradicional, intensiva e baseada na
monocultura, praticamente esgotou suas possibilidades de aumento da
produtividade com a incorporação de tecnologia. Culturas como a soja,
exemplificou Hirata, só podem produzir mais ampliando a área plantada,
o que tem complicadores, como o desmatamento da Amazônia.
"Isso significa que
temos (MDA) muito mais condições de apoiar a agricultura familiar, mas
o grande desafio para a agroecologia é identificar quais os setores de
produção prioritários a serem apoiados e o que é necessário em termos
de insumos, recursos financeiros e tecnologia para que isso aconteça",
acrescentou. A agricultura familiar responde hoje por 47% da produção
total e é responsável por 10,5% do PIB nacional.
Gargalo
Mas há dificuldades para o governo resolver, acrescentou. As linhas de crédito existem mas são de difícil acesso pelos agricultores, por causa da burocracia no Banco do Brasil, reclamaram alguns produtores. ONGs como o Cepagro, que realizam projetos de agroecologia, não podem utilizar os recursos do governo para pagamento de pessoal e serviços de administração, essenciais para qualquer projeto de apoio ao setor. Outra demanda, é a comercialização institucional, a venda da produção para merenda escolar, hospitais, presídios e outras instituições públicas.
A discussão da
comercialização dos produtos, aliás, foi a que mais concentrou a
atenção dos produtores. Este é o grande "gargalo" do sistema,
apontaram os organizadores e participantes do evento. Por isso, o
diretor da Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia do Paraná
(Aopa), José Antônio da Silva Marfil, veio ao evento apresentar o
"circuito", uma forma que os agroecologistas de sua rede encontraram
de driblar o problema. O "circuito"
consiste numa troca e circulação permanente dos produtos pelas
regiões, de forma complementar, que se somam para suprir a demanda nas
feiras livres de agroecologia, principalmente, com o compartilhamento
de custos de transporte feito por membros da própria rede. Isso
resolve a necessidade da diversidade dos alimentos orgânicos para
abastecimento de clientes e elimina a figura do atravessador. "É
necessário fortalecer o comércio local, em primeiro lugar, e somar com
a produção de outras regiões para ter volume e variedade", disse
Marfil. Merenda Escolar
Uma polêmica do
encontro foi a venda de produtos orgânicos para a merenda escolar na
rede pública. Produtores acusaram prefeituras do Estado de estarem
privilegiando um pequeno grupo de empresas com atuação nacional, nas
licitações para fornecimento dos alimentos às escolas.
Outra grande
preocupação dos produtores é com a extinção de escolas rurais, que
está levando muitos jovens a estudar em escolas urbanas, com o
transporte escolar do governo. "Com isso as crianças e os jovens
perdem os vínculos com a área rural, incorporam os valores consumistas
da cidade e acabam abandonando o campo. A gente entende que isso é um
elemento que contribui para o êxodo rural", criticou a professora
Suzana Pauli, que desenvolve o projeto Plantar e Colher – Um Jeito de
Aprender numa escola de Florianópolis, com o apoio do Cepagro.
Fundação Gaia e Gaia Village
A Fundação Gaia,
com sede em Porto Alegre (RS), foi fundada em 1987 pelo ambientalista
José Lutzenberger, e busca desenvolver e aplicar soluções
ecologicamente desejáveis, socialmente justas, com vistas à
preservação planetária em sua diversidade de ambientes e espécies. É
uma referência em práticas sustentáveis para a consolidação de uma
ética e cultura de integração harmônica homem-natureza, como pregava
Lutzenberger. Já o Projeto Gaia Village, localizado em Garopaba (SC), onde aconteceu o encontro, é uma parceria da Fundação Gaia, que tem como foco o desenvolvimento sustentável. Criado a partir das concepções de José Lutzenberger, com sua participação direta, o GV tem por objetivo criar um exemplo de ambiente amigável para a interação entre o homem e todo o sistema vivo - Gaia. Ali são desenvolvidos diversos programas de forte conteúdo ambiental, como preservação e recuperação de ecossistemas; produção rural sustentável; paisagismo produtivo, bioarquitetura, tecnologias ambientalmente responsáveis; desenvolvimento humano e educação ambiental, entre outros. |
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